ACTIVIDADE ARTÍSTICA DE MALANGATANA



Depois de durante anos ter sido ajudante de curandeiro de sua mãe, Malangatana veio trabalhar em Lourenço Marques como empregado, cuidando de um bebé. Foi igualmente apanhador de bolas de ténis no então Sindicato Nacional de Jornalistas.



Durante um certo tempo pintava no silêncio e foi descoberto por Augusto Cabral.
A sua primeira exposição aconteceu em 1959, numa mostra colectiva na Casa da Metrópole em Lourenço Marques. A sua primeira individual aconteceu em 1961, na Associação dos Organismos Económicos. A partir daí abriram-se oportunidades para mostrar as suas obras no estrangeiro. Realizou mais de uma centena de exposições por quatro continentes: na África do Sul, Rodésia do Sul, Nigéria, França, Paquistão, Índia, Inglaterra, Angola, E.U.A., Senegal, Portugal, Checos- lováquia, Alemanha, Brasil, Cuba, Itália, Suécia, Holanda, Bulgária, U.R.R.S., Finlândia, Dinamarca, Áustria, Turquia, Noruega, Espanha, Chile, Islândia, Colômbia.
Para celebrar o seu percurso artístico, Malangatana realizou no Museu Nacional de Artes, em Maputo, uma exposição retrospectiva comemorativa dos 50 anos de idade e dos 25 anos de actividade artística. As mesmas obras foram exibidas em Viena (Áustria), no Palais Palffy e mais tarde (1989), em Lisboa (Portugal).
Malangatana realizou diversos painéis e murais para espaços públicos em Maputo e Beira (Moçambique), Joanesburgo (África do Sul), Oklahoma (E.U.A.), Bolonha (Itália), Medellin (Colômbia), Termoli (Itália), Bahia (Brasil), além do painel executado para a sede da UNESCO em Paris (1997).
É autor de uma grande escultura (20m de altura) em ferro e cimento para a Mabor, no Infulene, Moçambique (1987-89), a qual é hoje Património Mundial da UNESCO.
Realizou painéis para o Pavilhão de África da Exposição de Sevilha 92. Novamente executou os painéis (60m2) para o Pavilhão de Moçambique da EXPO 98, em Lisboa, ocasião em que construiu um perigrimóvel, representando um crocodilo, que participava num desfile diário. Em 2004 realiza-se em Lisboa no ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) uma retrospectiva de pintura, desenho e cerâmica.
Pelo seu 70.º aniversário (2006) realizou uma exposição na sua terra natal, Matalane, onde teve participação de diversos artistas.
Em 2007 apresenta pela primeira vez numa exposição iti-nerante os “Desenhos de Prisão”, que começa em Lisboa (Fundação Mário Soares), Maputo (Fortaleza de Nª Sra. da Conceição) e Casa da Cultura (Beira). Um ano mais tarde apresenta um trabalho inédito de 12 painéis em mármore esculpido em baixo relevo de 300x180 cm, na Fortaleza Nª Sra. da Conceição em Maputo em conjunto com o Arqt.º José Forjaz.
Em 2009 realiza um elemento escultórico “Paz e Amizade” em mármore esculpido (10m de altura) na cidade do Barreiro (Portugal). Executa onze pinturas sobre mármore de 100x100 cm expostas em Évora em Fevereiro de 2010, aquando da atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora.

QUEM É MALANGATANA?

Malangatana Valente Ngwenya nasceu em Matalane, distrito de Marracuene, a 6 de Junho de 1936. Durante a infância, frequentou a Escola da Missão Suiça em Matalane, onde aprendeu a ler e a escrever em Ronga. Encerrada a escola protestante transita para a da Missão Católica em Bulázi, onde conclui a terceira classe rudimentar e parte depois para Lourenço Marques onde arranja emprego como criado de crianças. Foi “apanhador de bolas” e criado de mesa no Clube de Lourenço Marques, frenquentado pela elite colonial.
A partir de 1959, descobertas as suas capacidades artísticas, Malangatana envereda por uma carreira de pintor profissional, com o apoio de Augusto Cabral e do arquitecto Miranda Guedes (Pancho), que lhe cedeu a garagem para atelier e lhe adquiria dois quadros por mês, para que se pudesse manter.
Em 1961, Malangatana realiza a sua 1.ª exposição individual em Lourenço Marques, na Associação dos Organismos Económicos. Torna-se frequentador assíduo do Núcleo de Arte de Lourenço Marques, onde contacta com os artista da época e começa a mostrar os seus trabalhos de cariz eminentemente social.
Após o início da luta armada em Moçambique, Malangatana junta-se à rede clandestina da FRELIMO, desenvolvendo actividades que levaram a PIDE a afirmar mais tarde que Malangatana servia de cartaz de propaganda política antagónica à linha da administração ultramarina portuguesa, tendo sido preso por duas vezes pela polícia do estado (1966-68).
Em 1971, recebe uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, e foi a Lisboa especializar-se em gravura. Trabalhou na Gravura-Sociedade Cooperativa dos Gravadores Portugueses e, em cerâmica, na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego. No mesmo ano expõe na Livraria Bucholz e na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Em 1973 vai à Suiça a convite de amigos, onde tem contactos com diferentes galerias e artistas, que lhe abrem novos horizontes.
Com a independência de Moçambique, Malangatana envolve-se directamente na actividade política, participando em acções de mobilização e alfabetização, sendo enviado para Nampula a fim de organizar as aldeias comunais. Foi um dos criadores do Museu Nacional de Arte de Moçambique e convidado a criar o Centro de Estudos Culturais, actual Escola Nacional de Artes Visuais. Procurou manter e dinamizar o Núcleo de Arte (associação que agrupa os artistas plásticos) e criou os núcleos dos artesãos das zonas verdes de Maputo.


O AFECTO PELAS CRIANÇAS

Entre as várias paixões que faziam a personalidade de Malangatana, comer um prato bem confeccionado, dar gosto ao pé dançando, ouvir todo tipo de música sem descurar da ópera quando em pintura, Malangatana amava as criaças. E por isso, sempre que pôde muito fez por elas.
Ao longo da sua vida desenvolveu intensa actividade no Grupo Dinamizador do bairro do Aeroporto, onde residia, e participou em múltiplas actividades cívicas e sociais. Ensinou a arte a crianças provenientes de vários bairros.
Intervém na organização da Esco-linha dominical “Vamos Brincar”, promovida pela UNICEF. Na sequência é convidado para ir à Suécia (1987) participar em actividades similares com crianças suecas e refugiados de diversos países.
Foi um dos criadores do Movimento para a Paz. Fez parte da Direcção da Liga dos Escuteiros de Moçambique (LEMO), e foi membro da Direcção da Associação dos Amigos da Criança.
Foi deputado pela FRELIMO, de 1990 até às primeiras eleições multipartidárias, em 1994, a que não foi candidato. Em 1998 é eleito pela FRELIMO para a Assembleia Municipal de Maputo e em 2003 é nomeado vereador do Município pelo pelouro da Cultura, Desporto e Juventude.
Terminada a guerra civil em 1992, retomou o projecto cultural que impulsionara na sua aldeia de Matalane, surgindo assim a Associação do Centro Cultural de Matalane, de grande valor social e cívico.
Foi membro do júri para os Cartões de Boas Festas UNICEF, bem como de outros eventos de artes plásticas tanto em Moçambique como no estrangeiro. Vice-Comissário Nacional para a área da Cultura de Moçambique para a EXPO 98, Lisboa, e Hannover 2000, Alemanha.
A sua obra é reconhecida em todo o mundo, participando em múltiplas exposições individuais e colectivas, integrando diversos júris em Moçambique e no estrangeiro bem como participando em múltiplos e diversos workshops.
Pintor, ceramista, cantor, actor, dançarino, Malangatana é uma presença assídua em numerosos festivais, afirmando sempre a sua origem africana e moçambicana. E uma das provas evidentes foi a sua constante presença como dançarino e membro do comité organizador das cerimónias de Gwaza Muthini que anualmente têm lugar em Marracuene.
Malangatana também era apaixonado pelas letras. Em 1996 e 2004 publica dois livros de poemas, que reuném a sua obra poética desde os anos sessenta. O último livro é ilustrado com vinte e quatro desenhos seus, inéditos.
Aliás, a paixão de Malangatana se estendeu também na música. Ele cantava e dançava. Inúmeras vezes o vimos em palco, acompanhando diversos músicos, casos de Stewart, Dilon Djindje. Esteve por dentro na organização da ópera Carmen em África, cujo concerto resultou na miscelânia de artes plásticas e música. Foi Malangatana patrono e impulsionador do projecto UMOJA (que envolvendo países como Moçambique, Zimbabwe, Noruega, África do Sul e outros que ingressaram recentemente), tem como finalidade descobrir e promover talentos na área musical.


RECONHECIMENTOS À ALTURA

Ao longo da carreira artística, vários foram os prémios conquistados dentro e fora do país. Mas entre as premiações existem as condecorações ereconhecimentos.
A 6 de Junho de 2006, é homenageado em Matalana por ocasião do seu 70.º aniversário, sendo condecorado pelo presidente da República de Moçambique com a Ordem Eduardo Mondlane do 1.º Grau, o mais alto galardão do país, em reconhecimento do trabalho desenvolvido não só nas artes plásticas, mas também como o maior embaixador da cultura moçambicana. Nessa mesma data foi lançada a Fundação Malangatana Ngwenya, com sede em Matalane, sua terra natal.
Em 2007, foi condecorado pelo governo francês com a distinção de Comendador das Artes e Letras. No mesmo ano foi distinguido “Honoris Causa” pela Universidade APolitécnica de Maputo. Três anos mais tarde, 2010, Malagantana foi Outorgado Honoris Causa pela Universidade de Évora.
Dada a sua contribuição nas artes, a sua vida e obra têm sido objecto de vários filmes e documentários, dentro e fora do país. Ele está representado em vários Museus, por todo o mundo, bem como em inúmeras colecções particulares.